“Livres”. De verdade."
“Nós, sacerdotes,
queremos ser pastores
que não se apascentam a si mesmos,

mas se oferecem a Deus pelos irmãos,
nisto mesmo encontrando a sua felicidade”.
“Somos livres para ser santos; livres para ser pobres, castos e obedientes; livres para todos, porque desapegados de tudo; livres de nós mesmos para que em cada um cresça Cristo, o verdadeiro consagrado do Pai e o Pastor ao qual os sacerdotes emprestam voz e gestos, de Quem são presença; livres para levar à sociedade actual Jesus Cristo morto e ressuscitado, que permanece connosco até ao fim dos séculos e a todos Se dá na Santíssima Eucaristia”.
Estas são apenas algumas das belíssimas palavras que o Papa deixou aos pastores que nós somos; palavras que são, simultaneamente, consolo e desafio, esperança e apelo, a fim de sublinharmos mais e mais em cada um de nós a beleza da graça que nos habita e nos consome, nos enleva e nos envia para servir e dar a vida pela Igreja presente em cada outro!
Como permanecer indiferente a esse caminho traçado pelo Sucessor de Pedro ao sublinhar que não podemos mais ser pastores de nós mesmos?! Não podemos mais ser anunciadores das nossas palavras em detrimento da Palavra que é Jesus Cristo! Não podemos mais propor a nossa pessoa, as nossas ideias, os nossos «devaneios», as nossas questões meramente humanas e terrenas de acordo com as nossas espiritualidades particulares! É de Cristo que somos voz; é a Cristo Quem temos de anunciar; é a Cristo a Quem devemos obedecer mais que aos homens e aos seus critérios e vontades!
Como não acreditar – bem cá no íntimo do nosso ministério, no mais fundo da nossa alma, que a nossa felicidade e a nossa paz advém apenas da nossa fidelidade a Cristo e ao Seu Evangelho, apascentando, até doer, se for preciso, todos – e nunca apenas uns quantos – que o Bom Pastor nos entrega para lhes ofertar o nosso único tesouro: a graça de Deus?!
Como passar do simples desejo desta paz e desta fecundidade da missão sacerdotal?
O próprio Papa nos esclarece e relembra: sendo livres! Verdadeira e profundamente livres!
Livres de todos e de tudo quanto nos desvia do essencial para podermos ser completamente de Deus. Livres das amarras económicas, sociais, particulares, financeiras, oportunistas, que intentam pastores para lhes abençoarem posturas, comportamentos, religiosidades! Livres de pensamentos, sistemas, doutrinas particulares, espiritualidades tribais ou elitistas, para que sejamos capazes de dar a mão e o coração a cada outra mão e a cada outro coração!
«Livres de nós mesmos» para não nos endeusarmos nem a nós nos anunciarmos! «Livres de nós mesmos» a fim de podermos espelhar a beleza de Cristo e a Sua Palavra. A fim de testemunharmos a radicalidade da Cruz e a salvação que dela brota mais, bem mais, que a suspeita suavidade da lógica dos tempos e a perigosa ligeireza de estilos de vida que não se adeqúem jamais à vida de quem crê de verdade na mensagem de Jesus de Nazaré!
Que bom que o Papa nos inquieta, nos provoca e nos «ressuscita» para o essencial. Que fantástico o Sucessor de Pedro nos relembrar a simplicidade e a urgência da nossa missão. Que única esta oportunidade de cada um de nós recomeçarmos, com renovada paixão, esta aventura decisiva de sermos fieis pastores da Igreja que Jesus sonhou santa e serva diante de toda a humanidade.
«Livres», «livres» verdadeiramente para apenas nos deixamos aprisionar pela paixão a Deus, num amor incondicional, permanente, jamais agendado ou dependente de gostos ou paixões particulares, a cada homem e mulher que vem a nós e a quem buscamos por amor à salvação.
«Livres» para não dependermos nunca de nada nem de ninguém senão somente da Graça que Cristo nos promete, do Seu Espírito Santo àqueles que a Ele se abrem profunda e humildemente.
«Livres» para podermos anunciar o Evangelho denunciando sempre tudo quanto a ele é ameaça, «nuvem» ou adulteração. «Livres», enfim, para sermos tudo para todos em nome d’Aquele “que permanece connosco até ao fim dos séculos e a todos Se dá na Santíssima Eucaristia”.