sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010


"Jerusalém" II

Porque não comandamos o pensamento;
Porque não decidimos o pulsar do coração;
Porque somos sempre demasiadamente humanos;
Continuamente me «encontro» mergulhado nas vivências e nas emoções de me saber e sentir peregrino na Terra Santa…
Com que facilidade esta minha alma vagueia para alguns milhares de quilómetros de distância; com que velocidade este meu coração se instala nesses lugares sagrados que me fizeram experimentar uma paz sempre invejável quão definitiva, uma serenidade sempre desejada quão incompleta, uma harmonia sempre sonhada quão desaparecida…
Custa demasiado «descer do monte»! Sabia bem lá permanecer e, ao jeito dos primeiros discípulos, edificar umas tendas para lá permanecermos… Quando se experimenta a paz profunda, não apetece abraçar as «guerras» infundadas criadas pelos homens!
Quando se abraça uma plenitude de graça, não apaixona nem seduz entregarmo-nos às consequências da pequenez humana, sempre geradora de angústia, de impotência e de indignidade!
Quando se usufrui de verdadeira cumplicidade e fraternidade nas relações e nos sentimentos, não atrai sabermo-nos filhos de um tempo que absolve e promove as aparências e a imagem, que se vicia e realiza no efémero e no acessório!
Quando se entende e crê na vida gerada na Cruz, não arrebata a existência ter que combater contra as cruzes que não têm sabor de Páscoa, de fé e de Jesus Cristo!
Não, não é querer fugir do mundo ou da realidade!
Ao contrário, é não entender porque será que não nos convencemos que Cristo está vivo, ressuscitado, e nos potencia já a uma vida tão diferente daquela a que já nos habituámos como se fossemos tristes condenados à baixeza de comportamentos, à ligeireza dos sentimentos, ao empobrecimento da fé que dizemos possuir, ao sofrimento que não redime e não nos salva?
Não, não é querer fugir do mundo e da realidade!
É ter já tocado «um pouco de céu» e saber-me confundido por demasiadas paixões colocadas nesta nossa «terra» que tão longe está de Deus!
É ter já pisado um estádio de caminhada e temer a falta de forças para não descer àquilo que não me fala nem me faz ser verdadeiramente de Deus…
Peço, rezo, para que em cada dia desta Quaresma eu seja capaz de abraçar um mistério que me ultrapassa mas me apaixona. Mesmo que outras forças intentem arrastar-me para montes e colinas que não são, de certeza, presença e morada do meu Senhor…

5 comentários:

  1. Pe.António como eu entendo todo este conteúdo desta meditação,mas tenho muita esperança no coração,a recuperação e especialmente no Amor de Jesus Cristo.
    Deus não abandona quem NELE confia e cada dia que passa mais me sinto no SEU Amor e não fugo Dele por ninguém e isso desinstala muito.

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  2. Que descrição incrivel ,que Amor profundo,mas muito difícil passá-lo para a humanidade .
    Porque temos nós tantas coisas mundanas, que não nos deixa vislumbrar o que na verdade importa o Amor.
    Amor a Deus Pai,Filho e Espiríto Ssnto, aos nossos irmãos, há Natureza que nos proporciona tudo o necessário, mas não, nós ambicionamos tudo o que não tem nada a ver com Deus e o Amor.
    Vivemos de olhos fechados e ás vezes com medo de os abrir para não ver realmente o que nos preenche de verdade que é o Amor.

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  3. "e há qualquer coisa a nascer
    bem dentro no fundo de mim
    e há uma força a vencer
    qualquer outro fim
    "

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  4. Deus está comigo,porque senão há muito que tinha desistido de tudo.
    Quando se quer passar para a outra margem ,o mar está calmo, quando se chega perto, existe uma tempestade e nunca mais se alcança a outra margem que fazer ? lutar só e chegar lá .
    Sr.Prior espero que não desista de estar sempre aqui connosco ,ajudar, e partilhar O SEU Sentir. A minha admiração por Vós é muito grande,Bem Haja

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  5. Há tanta coisa a dizer, sempre…
    É bem verdade que o “subir ao monte” faz-nos apetecer não ter de descer. Há dois anos que é este “subir ao monte” que me permite, depois, continuar, que me dá forças para continuar, ao descer.
    Que seria de mim, de nós, sem este “subir ao monte”?...
    Por vezes apetece, realmente, não ter de descer, é verdade… e ficar nesta paz serena, definitiva; não ter de enfrentar esta dor, esta “confusão de paixões”…
    Mas ainda somos, efectivamente, deste Mundo, e é nele que temos de continuar a peregrinar;
    Dou o exemplo, ao descer? Espero que sim…
    E este exemplo que espero dar é suficiente para conseguir fazer descer do Monte ao Mundo “a paz, a graça, a cumplicidade dos sentimentos”?
    Se assim é, porque é que então não os aceitamos já aqui? Porque não os vimos, quando alguém os “joga” literalmente à nossa frente, e preferimos permanecer no sofrimento?...Porque teimamos em não permanecer no Mundo, felizes? Porque queremos tanto ficar no Monte, alheados deste sitio onde Deus fez o nosso peregrinar?
    Porque não aceitamos a paz, a cumplicidade de sentimentos?? Por vezes, não entendo!E, nessas alturas, apetece-me lá ficar.
    Mas Deus saberá onde e como nos quer. Deus saberá, não nós...

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