"Pescador de homens"

É esta a única missão que nos está confiada.

Menos do que isto será sempre desafiar a vontade expressa d'Aquele que nos consagrou e enviou ao mundo a fim de arrebatarmos corações para o Coração de Deus. Menos do que isso será sempre apostar na facilidade própria de quem desdenha - consciente ou inconscientemente - do valor da Cruz de Cristo. Menos do que isso será sempre cair na sobranceria de nós mesmos em detrimento da nobre tarefa que nos foi confiada pelo dom da imposição da mãos.

"Pescador de homens" para a Igreja nascida do Lado aberto do Redentor; "pescador de homens" para que o mundo entenda que o seu caminho é a glorificação de Deus e da Sua obra de salvação; "pescador de homens" a fim de que se multipliquem os corações enamorados por Jesus de Nazaré e nunca, mas nunca, por nós próprios, anunciadores do Evangelho!

Por isso custa, dói, causando sofrimento à Igreja e ao Seu Senhor quando nós, pastores, somos «pescadores» de privilégios, honras, destaques, aplausos e endeusamentos pessoais! Por isso torna-se confrangedor para a missão evangelizadora da Igreja quando nós, sacerdotes, nos pregamos a nós mesmos, quando adaptamos a exigência do Evangelho e a sua radicalidade aos nossos esquemas pessoais, às nossas vontades particulares, às nossas verdades intimistas e personalizadas!

Ser "pescador de homens" é ser destemido pregador da «sabedoria da Cruz», da caridade sem limites, do perdão até ao extremo, da verdade sem medos e da justiça sem condicionalismos arbitrários ou parcelares!

Quando sucumbo à tentação de minimizar a Boa Nova porque posso ser inconveniente, porque posso ser apontado ou «catalogado», porque posso perder «presença» e capacidade de influência, então, simplesmente, estou a «pescar» favores, interesses, vanglória, proveitos pessoais...

E quem permanece abandonado?

E quem fica defraudado?

E quem se sente traído?

Cristo, sempre Cristo, e a Sua Igreja, e o Seu Reino!

O «Ano Sacerdotal» - que é desafio a uma maior e mais fecunda oração - é sobretudo apelo à conversão de mentalidade, de prioridades, de atitudes, de desejos, de opções. É desafio a derrotar vícios instalados, a vencer rotinas atrofiantes, a ultrapassar critérios meramente humanos...

Porque o que vale e importa é a nossa vocação sagrada, divina, a sermos «sinal de contradição» no coração de cada tempo. Aliás, creio sinceramente que é isso que o mundo espera de nós, pastores: homens, vidas, corações, impregnados de Deus e da Sua Palavra incómoda, provocadora, desinstaladora, criadora de rupturas; espera de nós homens que são destemidos no anúncio dessa Palavra que tem apaixonados incontáveis homens e mulheres ao longo da História, Santos e Santas, que haveremos de imitar e seguir.

"Pescadores de homens" e não embalsamadores de consciências com o intuito de ganharmos poderes, influências, triunfos ou honrarias! A única coroa que podemos ambicionar é a «coroa de glória» que é a Cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo.

E aqui, neste «campo de acção» muito havemos de trabalhar para não nos iludirmos nos caminhos a trilhar...