segunda-feira, 26 de outubro de 2009


"Que queres que Eu te faça?"

Esta é uma questão colocada por Jesus no Evangelho de ontem; provocação do Mestre a que pode ou deve ficar indiferente; pergunta que não devemos endereçar aos outros mas, bem ao contrário, acolhê-la bem no íntimo de nós mesmos...
Particularmente neste «Ano Sacerdotal» que vivemos, não consigo - nem quero - ficar indiferente a estas palavras de Jesus!
Verdadeiramente, como pastor, como sacerdote da Igreja, que quero que Ele me faça?
E talvez a minha resposta não deva ser outra que a daquele homem de Jericó: «Que eu veja, Senhor»!
Na verdade, quantas vezes não está turvo, desfocado, enviusado, distorcido, o meu olhar sobre Ele, a Sua Igreja, os homens meus irmãos?!!! Quantas vezes não estou e sou absolutamente cego perante as maravilhas que a graça de Deus opera bem diante de mim e eu, simplesmente, desatento, distraído, ausente e duvidoso do Seu poder, da Sua Graça, da Sua vida no meio de nós!
Creio firmemente que também a mim o Senhor me questiona: "Que queres que Eu te faça?"!
E nesta noite, nesta hora, neste meu coração, apetece-me «gritar» - como o cego de Jericó - que Ele me conceda o dom da paz, do discernimento, da confiança, da perseverança, da entrega desmesurada, sem limites, sem «ses» nem «talvez»!
Desejo gritar-Lhe que me ensine e torne a ensinar o valor do abandono, do despojamento, da pobreza, da humildade, do amor à Cruz.
As coisas de Deus - mesmo que consciente não o queira - sobrepõem-se demasiadas vezes ao Deus dessas coisas! E isso cega-me, ensurdece-me, endurece-me e petrifica-me diante do essencial!
Como afirma S. Paulo, demasiadas vezes não faço o bem que quero e escolho o mal que não quero! Por isso sei que devo «gritar ainda mais alto»: «que eu veja, Senhor»! Que eu veja claro, que eu discirna serena e confiadamente, que eu me entregue sempre apesar de não «ver», não «entender», não «aceitar», não «vislumbrar» os caminhos a seguir, as opções e prioridades a abraçar, os horizontes a rasgar...
Preciso, precisamos todos, nós sacerdotes, escolhê-l'O e tornar a escolhê-l'O como naquele primeiro dia...
E agradecer porque Deus, sempre, mas sempre, pára a Sua caminhada para me chamar, nos chamar, e deixar-Se envolver bem dentro da nossa vida sacerdotal: "Que queres que Eu te faça?"!
Que eu nunca procure um lugar de honra ou de glória à sua direita ou à sua esquerda, mas simplesmente me decida a subir com Ele para Jerusalém, onde dará, e eu, e nós, com Ele, a nossa própria vida.

4 comentários:

  1. Prior, a seu despojamento,transparência, a sua humildade em partilhar o seu sentir, a sua INQUIETAÇÃO sobre a missão sacerdotal toca-me profundamente e faz-me sentir muito pequenina perante tamanha lucidez.
    Que bom seria que todos os sacerdotes tivessem esta dimensão!
    Peço ao Senhor por todos os sacerdotes, para que se tornem no que realmente devem ser.
    Peço-lhe igualmente, por nós leigos, que nos dê o dom da sabedoria e da fortaleza para que com coragem lhe digamos perante as dificuldades e inseguranças - Senhor, que eu veja, que eu veja claro!

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  2. Eu penso e tenho a certeza, que o Pe. António tem uma entrega a Cristo táo grande ou talvez maior que no primeiro dia .
    DEUS vai estar sempre assim com grande intensidade na Sua vida,com o bem sempre presente ,é um apóstolo de JESUS que veio até nós numa entrega muito grande para nos levar até ELE .

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  3. Rezando, acompanho-o na subida, Pe. António...
    Sempre rezando...

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  4. Ontem, bem no colo da Mãe, pus-me a questão exactamente ao contrário:
    -Que queres, Senhor, que eu faça?...
    -Que pretendes de mim?
    -Como posso fazer a Tua vontade, e só a Tua vontade?
    -Como e quando saberei qual é ela??
    -Como não me enganar??
    -E como não agir segundo a minha própria vontade?...
    E a resposta como que "desceu" pela seiva da azinheira, viva e fecunda: confia? Confia?...
    Percebi, então, e mais uma vez, quão bela pode ser a acção do Espirito Santo.
    Realmente, a verdadeira acção,a verdade na acção,passa exactamente por aqui: "Deixa a luz do céu entrar..."

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