sexta-feira, 3 de julho de 2009


“Só por hoje”, “um dia de cada vez”!

Um dos piores perigos para a fé é a «rotina», a «habituação», até a própria «banalidade» com que esta pode ser olhada, celebrada, vivida!
Daí que urge, a cada instante, repensar modelos e projectos, ideias e actividades, que nos ajudem a requalificar a beleza e a profundidade desta nossa opção: sermos discípulos de Cristo.
Nesse sentido, creio, eis que a Igreja nos oferece a todos nós – e bem particularmente aos sacerdotes – este dom que é o «Ano Sacerdotal». Tempo propício para que, como Povo de Deus, e particularmente como pastores desse mesmo Povo, redescubramos esse tesouro que é o ministério ordenado com que alguns dos fiéis são investidos.
Sinto, desde a primeira hora, que este «Ano Sacerdotal» pretende levar a cada sacerdote ao maravilhar-se, sempre de novo, da beleza do seu sacerdócio, a darmos nele um autêntico «salto de qualidade» na vivência e exercício desse mesmo ministério, actualizando esse permanente apelo de Cristo: “Arrependei-vos e acreditai no Evangelho”!
Sei que sou apenas um homem, tomado de entre outros homens, portador de fragilidades e pobrezas, de misérias e vergonhas, numa palavra: de pecado! Mas sei e creio firmemente que sobre mim recai também a palavra de Deus dirigida ao coração do Apóstolo das Gentes: “Basta-te a minha graça”!
De facto, bastaria que cada segundo desta minha existência pessoal, sacerdotal, se abrisse à plenitude dessa Graça para que a santidade não fosse «palavra», «ideal», «desejo», mas profunda realidade!
O tempo – ó o tempo – leva a esmorecer entusiasmos, paixão, entrega, sonhos, dos inícios! Então, eis que se ergue diante de mim, diante de nós, essa oportunidade de regressarmos à «fonte», a bebermos da frescura das origens, a actualizar a alegria e a vontade de sermos sempre, mas sempre mesmo, homens todos de Deus.
Alguém escrevia há dias: “A usura do tempo leva porém a esmorecer os entusiasmos do início: é o pó do tempo a cobrir de insensibilidade mesmo as maiores realidades. Torna-se então mais propenso a "calcular" o que se dá; a sentir o peso de um cansaço subtil; a agir de modo quase mecânico, privando de alma mesmo os gestos mais nobres e sagrados. Facilmente se pode resvalar para uma mediocridade de vida”.
O «Ano Sacerdotal» é, assim, poderoso exame de consciência, forte e derradeiro apelo à nossa transfiguração de pastores, a uma autêntica santificação e fidelidade ao dom que nos habita para sempre…
A oração de todo o Povo de Deus ao longo deste ano terá de «servir» para renovar, intensificar, o nosso «sim» original; há-de «servir» para movermos inércias, apatias, desencantos, medos, mediocridades, e nos apresentarmos diante de cada coração com as marcas da Paixão de Cristo, ou seja, os sinais do Seu Amor por cada pessoa humana!
Hoje, “só por hoje”, “um dia de cada vez”, desejo esta comunhão entre o meu coração e o Coração de Cristo!
Hoje, “só por hoje”, e “um dia de cada vez”, quero ser digno da oração da Igreja, de tantos e tantos homens e mulheres de boa vontade que por mim rezam, se sacrificam, me consagram e confiam ao Coração de Deus!
Hoje, “só por hoje”, e “um dia de cada vez”, desejo profundamente ser digno do dom que me arrebata e envia a cada um de vós…

5 comentários:

  1. O Pe. António não começa a oração do Pai-Nosso sempre da mesma maneira…
    A Noite de Oração Comunitária… sempre com uma «novidade», deixando a maioria das pessoas na expectativa quanto ao ambiente que vão encontrar, quanto à Oração em si… fazendo com que a maioria das pessoas saia da igreja com um sorriso… (ai a falta que sinto dessas noites tão, tão de Deus!…)
    A Quarta-feira de Cinzas e a forma como este ano a simbolizou, com grandes pedras e troncos secos, sem folhas…

    São algumas das inúmeras «pequenas coisas» que revelam um sentir e uma vontade de mudar, de reinventar, de desinstalar, de não cair na rotina, que tanto nos ajudam a melhor viver a nossa fé.

    “apenas um homem, tomado de entre outros homens”, que aceitou o dom imenso de ser discípulo de Cristo, que se entrega inteiramente aos outros, a “cada outro”…

    “um dia de cada vez”, nunca “só por hoje», elevo a minha oração por si… por esse seu «sentir de Pastor»

    Aninhas

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  2. A rotina do dia-a-dia leva-nos á «habituação» e a uma «Banalidade» perigosa, e assim não devemos deixar este amor cair neste perigo!há que viver todos os dias um de cada vez pedindo ao nosso senhor a paz e que nos aumente a fé, para que a cada instante este amor arda como a primeira vez!

    «Hoje, “só por hoje”, “um dia de cada vez”» A oração tem de «servir» para renovar, intensificar, o nosso «sim» original e verdadeiro!

    Ricardo A.

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  3. Boa tarde!

    Desde o primeiro dia que leio este blog! Já tinha sentido várias vezes o desejo de partilhar algo ou mandar simplesmente a minha "posta de pescada". Mas não fui capaz! Fico sempre sem resposta depois de ler os seus textos, instrumentos de Deus para tocar o coração de cada um de nós!

    Cada vez que faz acontecer memorial nesta Igreja, feito Corpo e Sangue de Cristo no altar, acredite que naquele momento somos todos nós que nos oferecemos através das suas mãos. Como nosso pastor, estamos aqui para o consagrar no imenso Amor que recai sobre si!

    Este ano é um "despertar" para uma realidade que deve ser vivida em cada coração, em cada dia, em cada eucaristia!

    Conte com a nossa também grande fraqueza, mas também grande paixão, para conduzir o que caminha a nosso lado a Deus!

    Um forte abraço...

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  4. Pe.António a vossa entrega é tão grande,o amor a CRISTO é tão puro,terno e cheio de amorque nunca cairá na rotina ele acende em todos nós uma chama, uma vontade de vos seguir e sermos melhores.Nem o vosso cansaço nestes tempos difìceis em que esteve só o desencorajou a sua entrega foi sempre total. Tenho um pequeno oratório pode crer que terá sempre uma oração da minha humilde pessoa para que a sua força não se esgote e tenha sempre a presença de DEUS cada vez mais forte,mais renovada.

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  5. Ao ler o comentário «o sobrinho». não pude deixar de comentar.SUbescrevo as suas palavras com a maior sinceridade,paixão porque é exactamente o que nós sentimosaquele amor a DEUS forte e profundo.

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